O DIA EM QUE NEVOU NO MEU BANHEIRO.


Noite. A lua é aquela mãe que espera o retorno do filho amado. Dia. O sol se foi indo para a parte da minha cabeça onde só há imaginação. Imagem e ação, lembro-me do jogo de mímica que costumávamos brincar na casa de meu amigo Rafael. Nós "quase" sempre ganhávamos das meninas... Que saudades das meninas...

Enquanto a tarde ia embora, dando lugar a noite que se fazia criança e vinha brincar com a gente de mímica, eu não pensava em outra coisa. Eu não conseguia pensar em outra coisa. Só me vinha a ideia do banheiro. A ideia do banheiro com aquela pequena pia... o vaso... a cerâmica... o piso que meus pés molhados pudessem se sentir incomodados, mas logo depois a água faria seu papel de conforto após um dia exaustivo de trabalho. O banheiro podia ser o lugar per si dos amantes. A cama é lugar de guerras e sonhos, digamos que ás vezes dá até um pouco de medo. Medo da colina ou da casa da colina, não é verdade?!

E foi exatamento nessa loucura de pensar no banheiro que me veio um verso pequeno para ela. Quem? Quem é ela? Podia ser ele? Não, definitivamente não maísculo. Verso que se não fosse concebido pelo toque dela. Pelo toque de um sonho surgido de água e sabonete, entre a espuma e o enxague, acho que não seria tão limpo.


O banheiro era só concreto. Concreto é duro. E o sentimento não pode ser duro. Tem que ser mole, tem que fazer amolecer o corpo, se não, deixa de ser sentimento e há de parecer-se mais com o duro.
O banheiro pode ser um lugar odiado pelas crianças. Mas naquele dia deixei de ser criança e virei só sonho e poesia. A tarde que se acabava deu lugar ao olhar azul penetrante. Deu lugar o desejo encarnado num beijo. Deu lugar a uma tarde que costuma demorar, mas que hoje só se demora uns pouquinhos. O azul do olho era só o fundo. O fundo do banheiro. O fundo do corpo azul-celeste. O fundo dos traços de teu corpo. Corpo de uma brancura. Neve.

Nunca tinha visto a neve. Até ter ido uma vez, somente. Somente uma vez fui a Polônia. Lá parece que costuma nevar todos os dias.


Pelos deuses está nevando em meu banheiro, acho que meu banheiro deixou de ser tropical e agora é só neve.


À polonesa um beijo com carinho e calor dos trópicos.

Comentários

  1. Como dria o célebre poeta: "Em outras camas só amarrotei lencóis."

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  2. É verdade. E como diria o grande rap MUMU, "A cidade não é mais a mesma e muita coisa mudou..." Digo que a cidade sou eu....

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  3. Nem dizer nem dez-dizer, apenas Everson in Polônia.

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