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Mostrando postagens de novembro, 2014

Carta para Sophia. (Parte II)

Minha doçura de filha, Pitoresco é imaginar que daqui há alguns anos, eu e sua mãe, não seremos mais tão necessários para você. Calma, digo isso, não que eu sofra de algum distúrbio de sofrimento antecipado, apenas para lembrá-la que as fraldas trocadas, em sua maioria por sua mãe, não serão mais indispensáveis. Você aprenderá a tomar banho, usar papel higiênico, escovar os dentes, pentear o cabelo, enfim, saberá de todas coisas que nós aprendemos com o passar do tempo, e um dia, e espero que este dia demore, você vestirá sua melhor roupa e dirá "Pai estou indo na casa da Paulina", e eu retrucarei: "Mas quem é Paulinha?", e você certamente com aquele ar de enfadonho responderá: "Pai, minha amiga da escola".  Naquele dia, talvez, terá se completado a mágica da vida, minha linda Sophia, estará fora dos olhos atentos dos pais. Naquele dia dia haverá choro e ranger de dentes, tudo é claro imaginário. Rapinas, criminosos, psicopatas da minha cabeça sai

Carta para Sophia.

Querida filha, Daqui há alguns dias, fará 04 meses de vida (09/12/2014), e mesmo assim ainda acho que você não sabe do tamanho da alegria que é tê-la como fruto do amor entre eu e sua mãe. Por mais que você não entenda, por ser ainda bem pequena, apesar do seu ganho de peso inegável, algo que já venho reclamando faz tempo, é que você não cabe em nosso coração. Não cabe por que figura de linguagem ainda é pouco para expressar o amor que sinto por você. Esperanças, decepções, tristezas, alegrias, fraldas Pampers que custam até R$ 380,00 (mentira!), enfim, são tantos os sentidos que envolvem sua existência, que ainda careço de palavras para tanto. Muito coisa andou acontecendo, e infelizmente tenho que te contar algumas coisas chatas: Algumas pessoas importantes para sua família que se foram, e digo isso, não para deixá-la triste, mas para saiba que a memória deles, estará também sendo compartilhada com a sua. Tio Pintoba, Tia Vanda, Tio Mocó e Vovó Nenem.  Você não os conhec

Monomonia

Eu queria ser compositor, acho lindíssimo quem consegue construir rimas, melodias e letras, transformando toda aquela, antes monotonia, em música e movimento sonoro organizado, não como ditadura e nem como democracia, mas como som livre, sem limitações dogmáticas ou ético-morais. Nada escrevo e não toco qualquer instrumento sonoro. Meu tempo é um ditador silencioso, corrói aos poucos a estrutura de meus pensamentos. Tudo se passa na minha cabeça com uma rapidez tão intensa, que mal consigo respirar. Há tempo para tudo, menos para viver. Há tempo de festas e desejos, mas de saudades pouco se fala, e pouco se vive. Quinta-feira é triste, e com chuva fica menos poética e mais escura ainda. A blusa do lado errado cópia de trecho da música da Clarice Falcão, nem sei que música é, sei que é legal. Quantas inutilidades se tornam tão úteis quando se chove lá fora, como um chocolate quente com pouco leite, fica forte demais, e mesmo assim, ainda invejo os compositores de músicas. No Youtub

Sophia em três dias.

Em "Assim falava Zaratustra", o filósofo alemão Nietzsche escreveu sobre um certo "eterno-eterno", conceito que se desdobra de múltiplas maneiras ao longo de toda a sua profícua produção de pensamento, sobretudo, conhecido pelo alto grau de criticidade. Mas não vamos falar sobre irrelevâncias e achincalhamentos filosóficos, quero discorrer sobre a passagem do 3º mês de vida da filha da mangueira alta e frondosa, que atende pelo nome Sophia, alguns a chamam de Sophie, outros de Sófi, eu chamo de menina, para não perder o costume. Antes de citar um versinho pequeno que fiz em sua homenagem, quero agora abrir um pequeno parêntese. "Minha filha você completa amanhã dia 09/11/2014, três meses de vida, parece que nos conhecemos desde sempre, mas desde que a senti pele primeira vez, percebi que existia algo em mim havia mudado. E mudanças fazem parte da aventura que é a vida, com seus percalços, amarguras, alegrias, idas e vindas, a qual aprendemos e desaprendemo

Colagem

"Isso significa, se ele tiver razão (referindo-se o autor a Nicholas Carr no livro A geração superficial - o que a internet está fazendo com os nossos cérebros, trad. Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011, grifo meu), que a robotização de uma humanidade organizada em função da "inteligência artificial" é irrefreável. A menos, claro, que um cataclismo nuclear, por obra de um acidente ou uma ação terrorista, nos faça regredir às cavernas. Então, seria preciso começar de novo, para ver se dessa segunda vez fazemos as coisas melhor." (p. 193) (VARGAS LLOSA, Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura/ Mario Vargas Llosa; tradução Ivone Benedetti. 1ª ed., Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Reflexões de um homem/ônibus.

“Dou-te mil vezes amor e beijos, se ficares comigo por um mísero segundo.” Eu disse para ela, sem nunca ter dito a verdade, sobre meus desejos e sonhos. Para quê desejos, se o que vale é não perder o ônibus? Estar na hora certa, é uma dádiva, talvez, imprescindível para a vitória sobre o cotidiano. Na periferia nasci, cresci e morri. E de lá sei que nunca sairei. No centro da periferia, não há estereótipos ou preconceitos, apenas comunhão, apenas comunhão de um ‘vir-a-ser”, uma vontade de ter dinheiro e não precisar pegar o ônibus ás 6h da manhã e chegar no trabalho ás 8h. Onde nasci, na cidade, não há cheiro de bosta de vaca. Há, acho que cascalho, subúrbios dentro de subúrbios. O que há são potenciais assassinos, desejos interrompidos, Freud chamou-o de ‘recalque’. Penso em não perder o horário do ônibus, chegar atrasado me incomoda e pode me levar a deserção. Meus pensamentos ficam limitados diante da minha derrota cotidiana, comprar o pão, fazer café, olhar meus filhos, calçar sap