DIA 21: NESTE DIA NÃO HOUVE CARNAVAL, MAS HOUVE FESTA.

"Acabou o nosso carnaval


Ninguém ouve cantar canções


Ninguém passa mais brincando feliz


E nos corações


Saudades e cinzas foi o que restou." (trecho da música "Marcha de Quarta-feira de Cinzas", Carlos Lyra e Vinicius de Moraes).




Um fim melancólico e triste... Era mais um fim de carnaval... Era um simplessímo fim, talvez até esperançoso de que ano que vem, sabedores de que virão mais uns dias de alegrias contáveis, quem sabe assim 5 dias.




O transe etílico coletivo havia se passado mais rápido do que o pensável por alguns, como no dia que antecedeu a semana da festa pagã da carne, a "festa da carne". Adoro carne, apesar de fazer mal ao meu estômago. Deixa para lá. Ao fundo, em uma esquina de uma cidade fria, alguns se atreviam a cantarolar as repetitivas marchinhas de carnaval. Mas o frio era por demais intenso, congelava-os as cordas vocais. Era tudo muito em vão. As maquiagens femininas e masculinas, havia se misturado ao rosto coberto por uma fina brisa de início da manhã. Era só tristeza e esquecimento naquela rua.




Algumas mulheres haviam saído de casa, para comprar leite para seu filhos, eram poucos aqueles que se atreviam a subir a ladeira, ingrime, perigosa e longiqua daquela rua. Era tão alta que dava medo, só de olhar. Era muito frio, que os dedos dela havia congelado.




A mulher subia com dificuldade, enquanto a criança em seu colo apenas dormia profundamente, dormia sem as preocupações cotidianas, dormia... dormia... até hoje, ela sempre dorme de mais, que esqueçe de escovar os dentes e quiça, até de comer... Acho que Shaskspeare teria dito: "comer ou dormir, eis a questão"...




Enquanto a mulher subia a grande ladeira, carregando em seus braços o peso da responsabilidade, sobretudo solitária, do peso de uma nova vida, essa gerada no pensamento feminino e poetisada em sua carne em brasa. Ela sentia vontade de desistir, sentia vontade de chorar, mas pela intensidade do frio, suas lágrimas mais frias ainda, poderia incomodar o sono velado de sua filha G.




Já a meio do caminho, a menina chorou. Finalmente acordou de seus sonhos infantis, e olhou para o alto, sentia o peso da altitude, talvez pensou a criança, devo estar no céu... É claro, que a criança não pensou nada disso, mas o mais provável é que G. teria dito, "tão cedo para acordoar, vou voltar a dormir", e aos poucos foi fechando seus olhos azuis, verdes, amarelos, pretos e roxos, de todas as cores misturadas pela paleta da genética divina. Olhos que se fecharam para o mundo da realidade, olhos, que, se azuis não se dizer se eram, se abriram para a realidade do sonho.




A mulher estava quase chegando ao fim da ladeira, quando lembrou-se do lhe havia acontecido no dia anterior, acho que, pelo que ela me disse, seria no dia 19 ou 20, ou mesmo dia 21, não sei dizer agora, só sei dizer, que num destes dias, sua grande poesia maleskiana havia nascido grimpante. Menina que já dormindo, e no dia de seu aniversário ainda dorme... Não. Não. Ela não está morta, por favor, não digam isto.




A menina G. comemora seu aniversário todos os dias, porque todos os dias dorme e dorme, porque se lembra quando sua mãe SUELI MALESKI a levá-la para a creche naquelas intermináveis manhãs-frias, subindo a ladeira...




"Se todos fossem iguais a você


Que maravilha viver


Uma canção pelo ar


Uma mulher a cantar


Uma cidade a cantar


A sorrir, a cantar, a pedir


A beleza de amar...." (trecho da música "Se todos fosse iguais a você" de Tom Jobim e Vinicius de Moraes).




Feliz (es) Aniversário (s) para minha linda esposa G. MALESKI CARGNIN por seus 19 minutos acordada.




17 de Fevereiro de 2012 ás 12h59.

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