Falso Haicai para Sophia.

Quando Sophia nasceu, eu ainda era criança. Andava perambulando para cima e para baixo lá na rua Pirituba em uma casa de madeira pintada com cal na cor azul, era linda aquela casa. Ela, digo não a casa, mas Sophia, nem sabia que eu existia. Que tinha sabido de minha existência, não sei. Talvez sim, e talvez não. Deixa pra lá. Coisas de meninas. Não gosto de meninas, as acho muito chatas. Querem controlar nossas brincadeiras, não aguentam uma "dividida" no campinho de futebol. Se a gente não as deixam brincar, ficam bravas, e dizem que não vão nos deixar brincar de casinha com elas. Puros blefes sem sentido. Sei que não cumprirão tais promessas. E Sophia? Sophia nem andava por lá. Sophia ainda era superfície. Ainda era apenas mais uma ideia no vasto mundo da ideias platônicas. Essa menina toda vez que passa lá pela rua de casa, mas flor do que gente, inspira sorriso e molecagem, chama a gente pra brincar, depois fica mandando a gente sair da brincadeira, diz que a gente não sabe brincar direito. Mas lhe pergunto leitor, o que é brincar direito? Existe uma regra específica que regulamente o funcionamento de uma brincadeira. Não sei se há resposta para tal pergunta, mas Sophia insiste em brincar à noite, enquanto o hemisfério sul dorme, Sophia acordada, brinca de "meu mágico mandou imaginar". Quantas canções sem sentido, quantos sentidos não compreendidos. O relógio toca, eu acordo, olha para o lado, uma flor virou menina, e um jardim, virou mundo, Sophia no berço pedalando por sonhos, e Giselen, fazendo as vezes de "rodinhas", ajuda Sophia a pedalar por entre as mangueiras e azeitoneiras do quintal da vovó Leonilia. 

E eu grito: "Menina tu tome jeito, "coidado" pra não esfolar teu joelho. Eu tô falando", mas ela insiste em pedalar imaginários.

Essas meninas não sabem o que é sofrer de saudade...

P.S. Sophia tem 02 meses e 10 dias. E todo dia 09 é uma festa.