O irmão alemão do Chico podia ser meu também?
Não é meu costume ler, e muito menos falar sobre um livro recentemente lido por mim, durante a longa viagem de saudades que foi de Manaus, Brasília e Rio Branco, cidades brasileiras, mas que poderiam ser só sonhos meus. Acordo assustado em um avião, achei que tivesse ido parar, por incompetência minha, no Oriente Próximo, sem dinheiro no débito e com o limite do cartão de crédito no limite da loucura, tenho que escolher entre pagar R$ 39,90 no novo livro do Chico Buarque intitulado "O irmão alemão" ou economizar para comer algo que alimente meu corpo obeso, com, quem sabe, uma bomba de carboidratos vendida a preço módico no Mac que fica no aeroporto de Brasília.
Ando desnorteado pelas vielas do aeroporto de Manaus, é bem maior que minha casa, mas mesmo sim, tento fingir que minha carteira está cheia de dinheiro, acho que por um assombro qualquer, se for flagrado sem dinheiro, talvez seja eu, até mesmo, preso, por desacato a economia popular. Um crime inexistente, porém frequente para mim. Limite estourado, e sem dinheiro para comida. Comida se come em casa, fora só lanche meu pai sempre me diz. Enfim, não é verdade que são de escolhas que é tecida à la vida?
Caminho para o banheiro, e me reprogramo dizendo que devia ter ouvido os olhos azuis de sangue, e que deveria ter trazido um livro, só tenho em casa dois livros, um é Saramago emprestado e o outro é um livro do Paulo Coelho, que de preconceito, apenas falo mal por falar, já que não tenho coragem de lê-lo, dizem os críticos que eu nunca ouço, ser ele muito hermético. Deixa para lá, coisas da velha literatura produzida no terceiro mundo. Digo que não vou comprar o livro, sei que meu limite do cartão do crédito está estourado, é melhor guardar. R$ 20,00 reais pululam da minha carteiras sobras dos R$ 100,00 do limite, haja vista o teto da minha inflação ter sido massacrado. Estupefato, coloco a culpa nos R$ 20,00 e digo que eu devia ter gastado no açaí, assim eu não teria razão para comprar um livro. Esbarro na escada, a noite é longa quando se espera uma conexão. Portão 7 ou 8 no terminal 1, e minha doce Sophia, grita em sonho, falta de pai e doída.
Desobedeço-me e vou até a porta da livraria amarela, rondo os livros, caminho por um corredor, e penso em roubar metade da estante de filosofia e história, aí vem a vendedora que me assusta com o pedido: "posso ajudar senhor?" e eu dou um ralo sorriso, e falo que estou apenas olhando, e que já vou sair. Mentira planejo um crime contra a propriedade privada. Ah! Se fosse no tempo dos comunistas, nada que uma coletivização dos livros resolvesse, saudades.
Resolvo ir para a sala de embarque, porém ao passar pelo título "O irmão alemão", penso em duas coisas: Será que tem alguma coisa a ver com o filme "Alemão" assistido por mim esses dias? Ou será apenas um título qualquer. Dou de caras com endividamento, e indevidamente, sem reparar nos problemas futuros, comprei o livros, com moedas, limite estourado e vinte reais novos. Sala de embarque e nas primeiras folhas me perdi. Quando acordei estava na última página do livro, já era 23h30, Rio Branco, acordo, desço do avião e concluo, por "A" mais "B" que o irmão alemão do Chico podia ser meu também, porque não?
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