19 de Junho: O nosso dia dos namorados.

Ao chegar do trabalho, abro meu amigo Google, o qual seu Doodle temático diz-me: "Everson, hoje é dia dos namorados, seu babaca!", é possível até ouvir as risadas de deboche, coisa triste porém aceitável em se tratando da teia cibernética informacional. Olho para o teto, só vejo livros, cerâmica, tinta creme e saudades da família, de casa e dos amigos que ficaram para trás, enfim, são esforços necessários na vida de um menino. Até penso que eu deveria escrever algo no meu diário virtual, mas deixo para lá, se navegar é preciso, viver é bem mais preciso, desculpe aqui minha redundância, ela foi proposital.

Agora já é final da tarde, estou numa terra distante e desconhecida, uso o extinto messenger para chamá-la para sair, mas ela diz "passa aqui em casa mais tarde", e eu respondo com meu extremismo semântico de sempre: "você quer ir ou não comigo ao baile dos namorados?" e ela, laconicamente responde: "passa aqui em casa, talvez eu vá, até lá eu resolvo". São 19h00, me arrumo e saio de casa a pé, na esperança de que minha coragem empurre-me para a porta da casa dela. Mas o medo, novamente me venceu, resolvo ir sozinho. Há casais apaixonados, há potenciais amantes, há uma miríade de sonhos a serem construídos e eu sozinho. Sento na arquibancada na esperança de que o amor caia em meu colo, pensamento que para minha decepção é interrompido por uma menina, dizendo "O Sr. não quer comprar um coração para mandar um recado para alguém? Custa apenas R$ 2,00, é para ajudar na nossa formatura do terceiro ano", e eu respondo sem palavras, apenas balançando a cabeça negativamente e deixo, pelo menos era a minha intenção, "um ar de desgosto", daquilo que almeja um bem superior àquela situação: "não ser notado pelos outros, e se acaso fosse, que fosse minimamente", prefiro o distanciamento.

A festa dos namorados na quadra de esportes estava um saco, volto para casa com ela em meus pensamentos: "Por que não aceitou ir comigo à festa? Será porque sou negro? Sou pobre demais? Talvez a halitose? Será meu aparelho de correção ortodôntico? Penso que talvez ela estivesse cansada, ou talvez amando demais para sair de casa. Talvez esperando o amor cair no colo, assim como eu. Talvez, talvez, talvez. O pensamento do ser solitário voa e se despedaça em sentimentos, muitas vezes, contraditórios. Penso assim agora, talvez naquele dia eu só desejaria um beijo, mesmo que fosse um "selinho" na testa, a qual demonstraria o mínimo afeto amoroso. Desconsiderando a frase anterior, isso eu podia ganhar gratuitamente de minha mãe, enfim, eu estava mesmo era querendo alguém, que fosse biológica e socialmente mulher, para ser "minha" naquele dia. Seria apenas uma vontade prazer pelo prazer, algo trivial? Eu achei que pudesse ser, mas eu estava errado.

Digressão para falar com minha namorada.

É querida Giselen, a festa acabou, o dia 12 se foi, mas aquele mês do calendário ainda nos reservavam surpresas. Dia 19, isto a minha memória pouca pode esquecer, mas a letra não, a palavra corta, deixa rastro, fica marcado para sempre. Esse posso fingir esquecer, somente por brincadeira, mas sei, que aquele dia nunca acabou, porque a nossa festa continua, o mês transcorre como um rio, e eu ainda acho que estamos em seu quarto e você me dizendo: "Você nem passou na minha casa aquele dia, fiquei acordada e te esperei, você não veio, voltei a dormir."

Aí eu penso que dia 12 de Junho de 2011 foi somente um dia dos namorados qualquer, mais um., inclusive como o 12 de junho de 2015. Agora o dia 19 de Junho de 2011 é o nosso dia dos namorados, e este, não pertence a ninguém, somente a nós, EU e VOCÊ.

Te amo minha sempre olhos azuis, polonesa dos trópicos, agora mãe de uma princesa que carrega no nome a Sabedoria, a nossa pequena Sophia.

Beijos de seu admirador indiscreto.

Castro de Rodrigues E., 12 de Junho de 2015.

P.S. Querida namorada o título está em polonês, sua língua ancestral. Então copie e cole no Google tradutor, depois veja o que quer dizer em português.