Sophia is nine months.

Querida filha, já é madrugada, acabei de vê-la, em seu berço, dormindo como um anjo. A central de ar nova da Eletrolux que eu comprei na loja Bemol para pagar em quatro "leves" prestações, tudo pelo seu bem estar. Como diz minha grande filosofa materna "Meu filho você só vai entender o que é ser pai, o que é ser mãe, quando você for um deles." Minha mãe sempre certa. E tem mais, olha o tipo de frase da sua avó Nilva: "A gente faz de tudo por esses filhos, e eles num dão valor. Vocês só vão me valorizar quando me verem aí nessa sala, mortinha da silva. Aí neguinho vai chorar, e não vai ter mais jeito." Confesso que é bem reconfortante ouvir essas palavras. Não se preocupe queria Sophia, sua avó Nilva está "vivinha da silva", e hoje, pelo telefone, disse "pra eu te dar um beijo, porque vovó e vovô tão com muita saudade". Eu já dei o beijo e o recado fica no seu coração infantil.

Minha filha, depois de seu primeiro dente, agora percebo que há uma legião de "dentinhos" eclodindo a cada dormida sua. Seu cabelo está crescendo e seu sorriso cada dia mais lindo. Agora que você já tem nove meses, posso lhe confessar uma coisa. "Eu morro de medo de ver você caindo do berço", até baixamos a grade, porque seu crescimento tem sido incontrolável. Coisas do cálcio, do leite materno, do cérebro, dos neurônios e seus dentritos, axiônios, etc, enfim, de uma gama de transformações que eu, que não sou um cientista, sabe explicar.

Filhinha, essa semana na nossa sexta ou sétima mudança de endereço, enquanto eu e sua mãe arrumava-mos as "coisas" que seriam transportados, já viu né, toda aquela bagunça, formos surpreendidos com um choro seu. Depois de tanto cuidado, você caiu em seu andador de crianças na varanda da casa laranja, ali atrás da Delegacia. Olhei pra você, toda chorosa. Um lamento que dá dó. Meu coração é mole, sempre soube que seria um pai molenga. Vi até um pedaço de folha em seu dente. Mas os anjinhos costumam proteger as crianças do mundo. Reze com os anjos, eles são amigos do papai do Céu. O choro passado e o sorriso "como se nada tivesse acontecido" acabaram se cruzando e depois de alguns minutos e um banho coordenado por sua mãe, você minha filha Sophia, já estava novinha em folha. Pronta pra outra investida contra a terra e o mato. Coisas da vida.


Bom minha filha, talvez você nem se lembre, pois tinha apenas 9 meses de idade, mas a casa que moramos agora que tens essa tenra idade, é uma casa verde de madeira que fica na esquina da Travessa dos Navegantes com Travessa Acre, e o nosso quarto é quente. é quente. Um forno durante o dia, mesmo com a central de ar ligada. É horrível, horrível. Mas até nossa ida para a cidade de Porto Velho, teremos que aguentar. Ainda bem que você nem se lembra disso.

E por fim, você está linda, esperta, "imita tudo e todos", hoje eu pude presenciar você imitando um "cheirinho cheirinho", coisa linda de se vê. Eu que sou um papai babão, vou utilizar sua licença poética, para tirar um excerto do poema do Vinicius, meu amigo de Moraes, que se chama "Poema Enjoadinho", digo boa noite filhinha, estou acordado para garantir que ninguém perturbe seu sono.

"(...) Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são." (ANTOLOGIA POÉTICA, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 195.)

Estou na Delegacia de Extrema como plantonista, com saudades de casa, mas tendo que trabalhar. Distrito de Extrema, 02/06/2015 às 01h25.


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