Espera

No escuro do meu quarto penso que você, a qualquer hora noturna, vai bater à porta, e me dirá com um sorriso estridente: "Pai, cheguei! Bença pai!", e eu, balançando a cabeça da confirmação, direi apenas "Deus te abençoe minha filha". Minha filha? Como pode um pai querer ser o dono de sua filha? Isso não há de ser assim. É um paradoxo por de mais cansativo pensar essas coisas, gostaria mesmo era de somente beijá-la fraternalmente, e esperar que me dissesse, "Pai me ajuda no dever de casa?", a qual diante da minha paciência já tão conhecida, iria caminhar até a mesa de estudos e a ensinar a matemática que eu juro, juro, que fingirei saber resolver os tais problemas.

Esperar nem sempre é tão chato, existem esperas boas e magníficas, como quando sua mãe Giselen, faz macarronada com beijo ou mesmo aquele pudim de paixão. A espera não se torna assim uma tortura com T maiúsculo, mas sim algo de uma doçura poética. Ah! Sophia como esses meses foram de aprendizado, você dormia, acordava e quando sua mãe dormia, eu conversa contigo sobre as coisas que aconteceram no dia, penso que você tenha intendido pouco, mas já vale o sentimento, já vale o ouvir. Assim como meu amigo Rubem Alves disse, antes de ir para o céu dos poetas, todos nós "devemos, em vez de criar cursos de oratória, cursos de escutatória", o que me leva a crer, que você minha filha, aprender a escutar, certamente saberá manipular com maestria o dom de falar.

Estive pensando esses dias que ser pai é saber não ser pai, explico isso, porque apesar de insistirem os especialistas em psicologia do desenvolvimento que as primeiras reações e experiências intrauterinas à sons e vozes acontecerem em um determinado estágio da gestação, ACHO que quando vi Sophia pela primeira vez, ainda com a imagem da TV em preto e branco acoplada ao aparelho de USonografia, eu tive vontade de sair correndo da sala, pensei: Eu?! Pai!?, foi meu primeiro medo. Depois pensei que eu poderia ser um bom pai, mas com a ressalva de que deveria primeiro saber fazer um bebê dormir, e conclui que eu não tinha essa capacidade, não me era algo inato, enfim, minha dúvida pairava sobre a minha competência para ser pai. 

Depois fui descobrindo que ser seu pai era algo único, não havia no mundo ninguém igual a você, e assim, acho que entendi, que ser pai é sempre um saber e uma experiência por construir, em outras palavras, podem existir escolas para pais, mas para mim ser pai é antes de tudo ser filho do Antônio Castro, que também é filho do José Ferreira, que é filho, sempre filho, e ser pai e filho é sempre servir a esperança na vida.

E para terminar esperando, Sophia minha filha, peço que leia este texto ouvindo essa música "O filho que eu quero ter" composta por Vinicius de Moraes e Toquinho, e faça dela uma homenagem minha para você, apenas claro trocando o gênero. Se você desejar dê uma lida em outro poema do Vinicius e se chama "Poema Enjoadinho", espero que goste.

Hoje são 22/07/2014 às 19h46, estou no Distrito de Extrema-RO, ainda ansioso pelo seu nascimento.

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