o menino e as letras invertidas.

um moço na feira dos desejos grita: vai aí um verso qualquer? com molho de brincadeira ou um beijo atrás da igreja? ecoa uma voz por entre os ouvidos...

vendem-se beijos seus na feira de desejos. um menino travesso retrucou: quanto custa seu moço? e ele respondeu: não custa nada. o menino no ápice de sua alegria, nem perguntou o porquê disto. quando então o feirante respondeu: é só cantar uma melodia melancólica e esperar enquanto desabrocha um beijo de dentro daquele flor ali. e apontando por entre os galhos secos e retorcidos, o menino viu um lindo vaso decorado com figuras infantis tão simples como o orvalho da manhã... sabe-se que o menino olhou para o vaso e não vi flor nenhuma. então com raiva e assustado, o menino perguntou: onde está a linda flor que o senhor me disse que teria neste vaso? o feirante dos desejos deu uma risada e olhando para os lados, virou as costas para o menino e saiu. sentindo-se fatigado com aquela conversa estranha, o menino andou dois passos atrás daquele homem estranho e tocou em sua mão esquerda. quando de súbito o o feirante virou-se para o menino e disse que aquela não é era hora de perguntas, e continuou apenas cante. parou o menino com aquele pensamento em sua cabeça e deu dois passos atrás e foi se embora para sua casa-escondida.

Chegando em casa viu duas letras no canto superior do vaso com duas letras. I.T.. o que significariam essas duas letras invertidas? de um pensamento assim não poderia haver outro testemunho a não ser sua vontade de ver a flor desabrochar. nesse lapso de tempo o menino se deu conta de que não sabia cantar... nem com a melancolia que o feirante lhe dissera, muito menos cantar afinado numa escala harmônica. então teve uma idéia. poderia fazer uma mistura de grão de poesia com água-de-menina e assim jorrar naquela terra sutil e fazer crescer a linda flor que esperava a séculos. então lhe veio um versinho simples:

"De um grão de poesia desta terra seca, molhada com água-menina... faça-se brotar o milagre da linda flor sibilina."

Para a tristeza do menino aquele verso sincopado não fez nascer nem do mais íntimo seio daquela pouca terra, nada que desse margem para parte daquele corpo-flor que ele tanto desejara. Mas ele perdido e sem esperança, virou as costas para a flor e foi-se embora brincar com seus amigos.

Ao final da tarde, quando o sol já se abraçava com a lua ele voltou para sua casa-escondida e olhando para o vaso viu com desespero que nada mudou. E chorou, chorou a madrugada inteira.

Naquela manhã de outros manhãs acordou cedo e sentiu um cheiro que fez ele voltar a fechar olhos. achou estar sonhando e fechou novamente os olhos. pensou acordar num verso qualquer. assim levantou-se e foi de encontro ao vaso e para sua surpresa um lindo jardim de flores macias e perfumadas havia tomado contado de seu quarto... eram orquídeas, rosas e flores que ele nem sabia o nome. sabia o cheiro. mas uma flor lhe chamou atenção.

ela tinha duas pétalas somente, mesmo assim a alegria que reluzia era uma beleza incontável que nem prestou atenção em detalhes instigantes. a fragância do perfume era magistral. Ficou instantes intermináveis parados diante daquela imagem. E foi-se embora.

Aquele menino não viu, mas a única flor que crescera com a força de suas lágrimas que rolaram pelo quarto inteiro, era aquela flor fina e trigueira. com carinho para as letras invertidas. "I.T"

Comentários

  1. " ao ler os versos do escritor, sinto-me perto, lá, vivenciando cada cena, sinto cheiros e gostos, sinto-me presente.
    será que um dia escreverei assim? penso.
    enquanto isso vou tentando imitá-lo

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  2. "amigo Diego, não se preocupe com isso. amanhã você se dará conta da finitude daquilo que escrevo e assim dará um passo além. assim verás a porta de uma escrita doce se desdobrando entre seus dedos. a cada letra uma gota de sangue. a cada gota um texto seu que vai melhorando. exercite. você é jovem e tem talento. eu? estou velho. morro de inveja do que voce escreve.

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